Repasse da Negociação com o Ministério Público (01/03)

Por CAMat
30 de março de 2024

A primeira parte da reunião foi bem confusa, pois a usp não veio preparada para a reunião com a EACH e a discussão sobre o desmonte do HU, embora houvessem alunos muito engajados que trouxeram dados concretos (75% de funcionários a menos atualmente no HU) e outras discussões sobre como não estava sendo um ambiente propício para o aprendizado, sendo a função do HU ser um hospital escola para os estudantes da área da saúde. Já haviam sido abertos protocolos sobre estes dois temas e a USP não se mostrou preparada, muito menos disposta a discutir estes temas, visto que empurrou até a última reunião de negociação a responsabilidade de debater sobre, e ainda no final empurrou o compromisso para outro espaço.

Essa primeira hora foi extremamente desesperançosa para a mesa de alunos, pois a USP além de ter um posicionamento dissimulado a respeito dos compromissos, das demandas trazidas, apresentava tamanha desorganização que parecia proposital - falavam sobre orçamentos de forma desordenada, diziam que não tinham anotado direito as demandas dos alunos, reforçavam as manutenções do CRUSP em andamento. Quando citaram a situação do CRUSP , os alunos começaram a fazer falas reforçando que assim como a ocupação dos alojamentos foi um tema avisado em reuniões com o MP, mas com a posição de completo descaso da USP em relação à essa demanda, a necessidade de abrigar os calouros ocorreu e por isso houve a ocupação. A USP reforçou a posição de que a ocupação além de "violenta" infringia o acordo de negociação com o MP, inclusive a Professora Esther da PRIP disse que a USP pensava em não participar da última reunião conosco. Este momento foi bem conflituoso, os alunos fizeram falas sobre a ocupação, a legitimando, alguns sobre as diferenças do movimento da greve e da necessidade de moradia que se apresentou no começo do ano, assim como em todos os anos. As promotoras intervieram e colocaram se a defesa da ocupação seria a pauta principal, ou se poderíamos seguir com o programado. O segundo tempo da mesa era sobre política de cotas e admissão de professores PPI. A professora Esther representando a PRIP falou de forma extensa sobre o aumento dos números de ingressantes PPI na USP e como isso era um saldo positivo para a PRIP como políticas de inclusão. A primeira fala foi minha sobre como a conclusão da PRIPde que o aumento do número de ingressantes mostrava sucesso no projeto de política de inclusão da pro reitoria, nos mostrava o real "projeto de inclusão" da USP, este seria de continuar a USP como uma universidade elitista. Apontamos como a permanência é a pior parte da realidade uspiana para alunos PPI e de baixa renda, tanto que nos últimos anos saiu um estudo sobre evasão na USP mostrando números alarmantes, sendo acima de 50% dos ingressantes em cursos de exatas (IME) principalmente entre cotistas. Logo, a conclusão é que a visão de inclusão da USP está ligada à se vangloriar de números que não condizem com a realidade de permanência dos PPI, o que é o principal na graduação, questões econômicas e sociais que atingem esses grupos de uma forma mais agravada que qualquer outro na universidade. Citei a questão da problemática em torno da resolução do conselho universitários para cotas nos concursos de professores, primeira a questão de não fazer reserva de vagas em concurso com menos de 3 vagas e apenas a bonificação na nota, como a USP segue um caminho distante de outras faculdade brasileiras e na América Latina. Em contrapartida, permanece tentando aplicar projetos estrangeiros e de países muito diferentes da nossa realidade, para além, replica discursos retrógrados sobre cotas para cargos públicos como "concorrência artificial", "não deixar cair o nível" em prol de uma política de inclusão. O que é assustador, pois além de termos políticas de inclusão para alunos muito falha, a discussão para os docentes é ainda pior. Após tivemos uma fala sobre a necessidade de cotas trans tanto para alunos, quanto docentes.

Tivemos falas sobre que as ocorrências de casos de racismo dentro das salas de aula, para além do estrutural, o que faz com que mesmo após todas as barreiras socioeconômicas para os alunos PPI, mesmo para aqueles que as "vencem" ainda existem estas violências, as quais contam muito durante a formação. Um aluno trouxe a questão de como a ineficácia da moradia universitária e auxílios impactavam estes estudantes, sendo um projeto completo, não só a reserva de vagas, ou qualquer auxílio no ingresso, mas toda a estrutura a qual receberá estes estudantes. Houve uma fala sobre como a aplicação do vestibular indígena era uma das promessas durante a greve, mas pouco a USP apresentou, mesmo podendo ter a referência de outras universidades brasileiras e paulistas. Uma das últimas falas, de um estudante da EACH, crucial para o encerramento deste ciclo que foi a agenda da USP com o MP, algo que podemos ter em mente para as próximas lutas foi. Começou mostrando quais cotas tanto para alunos, quanto para docentes e há quantos anos as discussões sobre são avançadas no Brasil nas universidades, principalmente entre as faculdades federais. A USP estava atrasada há mais de 1 década nesta discussão e implementação, assim como tenta permanecer retrógrada e abre determinados espaços apenas com muita luta. Assim como na greve de 2016, para as cotas, foi preciso uma greve e ocupação pata ter o mínimo de espaço de diálogo, porém nem sequer deliberativo. Expressou como a USP foi extremamente negligente com as reivindicações da EACH, mesmo com um redesenho do PAPFE feito e apresentado durante a greve, como esse auxílio é algo crucial para a permanência dos estudantes em situação de vulnerabilidade e entre estes os PPI. O encerramento da mesa foi com a fala da USP, a professora Esther citou de forma sucinta cada uma das falas, disse que a USP estava trabalhando em analisar a permanência, mas ainda não tinha trabalhos completos para análise, disse que cotas trans era algo que estava sendo estudado, disse que o vestibular indígena era um compromisso, mas não havia prazo. Sobre, enviamos ao Levante Indígena o canal para criação de um protocolo junto ao MP, como o feito pela EACH e HU. Pouco comentou sobre a resolução sobre contratação de docentes, pois foi aprovada em espaços deliberativos da universidade, com representação estudantil. Comentou que achava que havia um lado positivo na USP ter sido a ultima a inserir as cotas raciais no seu processo de vestibular, pois assim pode aprender com as outras experiências, este ponto específico gerou muita inquietação no auditório, pois é absurdo em diversos níveis de discussão. Assim, a professora Esther retirou a fala e diz que ainda segue enfatizando os esforços da universidade para avançar nas pautas de inclusão.

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