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No longínquo feudo da Cidade Universitária, o último semestre ficou marcado pelos corredores dos institutos populadas pelos diversos boatos e pseudodebates sobre algumas crises na USP. As preocupações variavam de panelinha em panelinha: os frequentes furtos de bicicletas e carros, aumento de criminalidade, sobretudo nas áreas menos frequentadas, vandalismo das áreas públicas, falta de moradia e auxílios aos alunos, superlotação dos restaurantes universitários, aumento do preço dos Trentos… Não faltavam motivos para gerar descontentamentos.
Paralelamente, em terras IMEanas, nosso seleto grupo de heróis estava pronto para lutar contra os maiores males que assolavam seu território. O bravo líder era o General Burocas, sempre carregava consigo sua reluzente maleta e uma caneta tinteiro afiadíssima. Seu fiel escudeiro e braço direito era ninguém menos que o Tenente Dez Caso. Conhecido pelas suas vestes militares impecáveis, sempre foi o melhor nos treinamentos de camuflagem, ninguém era capaz de encontrá-lo mesmo após o fim do treinamento ou em outros horários do dia. Por fim, mas não menos importante, o pequeno Cabo Capitão Coronel Confusão. Por conta de uma falha de comunicação, diversos cargos foram atribuídos ao herói e, para evitar o longo título, os heróis optaram por sequer conversar com ele. Não restaram muitos registros sobre o grandioso Confusão, as poucas menções eram extremamente inconsistentes e, ocasionalmente, era descrito como uma calma cobra cascavel carmim.
A primeira empreitada do grupo não demorou para ser decidida. Apanharam suas calculadoras e rumaram ao ponto de ônibus mais próximo carregando a disposição de cem veteranos no final do semestre. O bravo transporte levou-os sem mais delongas do que o normal aos tenebrosos domínios da reitoria, o primeiro desafio estava superado, mas o caminho não seria fácil e tampouco permitiria que tomos alcançassem o triunfo.
A primeira vassala, a Perspicaz Regente das Guildas, rapidamente bloqueou a passagem do General Burocas, do Tenente Dez Caso e do outro membro. Brevemente, anunciou seu enigma em alto e bom som: “O que é, o que é? Entra para sair, mas nem todos saem pela saída”.
Ainda que os heróis usassem todo o poder mental que desenvolveram em seu treinamento, a escassa reserva esgotou-se antes que pudessem concluir um pensamento. Por um milagre do acaso, a primeira vassala engraçou-se com o Tenente Dez Caso, pareciam ter sido feitos um para o outro. Optaram por deixá-lo com ela e General Burocas rumou quase sozinho para o próximo obstáculo.
Alguns minutos a diante, o nosso já diminuto grupo deparou-se com o segundo vassalo, o Pacato Regente de Integração e Participação. Para o seu desafio, preparara um tabuleiro de xadrez e anunciara aos heróis: “Neste desafio, deverão me vencer numa batalha de xadrez, mas há regras especiais. Vocês devem mover os cavalos exclusivamente em rodadas ímpares múltiplas de três, os bispos não podem formar um ângulo menor que 75° com o rei… podem começar”. Imediatamente, confusão moveu seu bispo para trás e tirou-o do tabuleiro. Enfurecido, o segundo vassalo gritou “Você não pode fazer tal movimento!”, quando foi brevemente retrucado “Estava nas regras?”. Numa velocidade surpreendente, nascera um acalorado debate sobre as mais estúpidas regras já criadas, o que permitiu que o maior dos heróis, o General Burocas, seguisse para a sala do regente.
A jornada estava próxima de seu fim, estava claro pelo caminhar das coisas. O ar ficava progressivamente mais pesado, a sala do Rei Tor estava em sua frente. Num suspiro de coragem, empurrou a porta e abriu-a revelando o monarca mais do que enfurecido. Perante aquela figura, Burocras sofria para até mesmo respirar, mas não o bastante para sufocar seu espírito heroico e sua missão absoluta: eliminar o maior dos males do território. Numa investida histórica, o herói acelerou sem que qualquer um tivesse a chance de pará-lo, o Rei Tor sequer era capaz de acompanha-lo com seus olhos, mas não seria mais preciso. General Burocas estava fazendo contato com o objetivo, estava claro o que era preciso fazer: num limpo e direto movimento, estendeu sua mandíbula e limpou a última mancha da bota do Rei. Era o fim de uma saga. Tenente Dez Caso estava tendo um caso com a Perspicaz Regente das Guildas, o Cabo Capitão Coronel Confusão dedicou sua vida a um infindável e desnecessário debate com o Pacato Regente de Integração e Participação e nosso líder, General Burocas, voltara a seu lugar de direito: lambendo as botas do Rei Tor, a missão do grupo foi um verdadeiro sucesso.