
São Paulo, 08 de dezembro de 2020.
Prezadas professoras e prezados professores,
Escrevemos em meio a este clima de tensão quanto aos casos de cola em prova por pensarmos que o diálogo é a melhor das opções. Assim, gostaríamos de expor alguns pontos que julgamos pertinentes e, por último, fazer um convite a vocês.
Compreendemos que deve ser decepcionante notar casos de colas quando se faz a correção de provas, como deve ser revoltante tomar ciência da “indústria da cola”. Nós não negamos a existência dessas práticas entre os estudantes, tampouco a defendemos. O ponto se faz em que estes fatos não são exclusivos do ensino remoto e o contexto de pandemia em que estamos inseridos torna extrema a medida de aplicar provas presenciais como solução.
Devemos analisar as questões sociais implicadas na convocação de provas presenciais. Embora seja uma parcela mínima, há estudantes que retornaram a sua cidade natal e lá passam a quarentena, estes teriam gastos com aluguel e passagem apenas para a realização de algumas provas. Ainda, mesmo para aqueles estudantes residentes em São Paulo capital ou cidades próximas não é garantido o acesso ao Instituto, pois com a suspensão das aulas presenciais foram suspensas as cotas do bilhete único estudantil, de modo que para se deslocar até o IME teriam de pagar a passagem integral - o que pode não ser possível para alguns estudantes.
Fora estas, temos as questões de saúde. Primeiro, de acordo com a sétima atualização do Plano USP ainda não atingimos a fase em que é permitido realizar atividades acadêmicas, como dar aulas ou aplicar provas. Segundo, precisamos levar em conta que alguns estudantes, assim como alguns docentes, fazem parte do grupo de risco e/ou moram com pessoas que fazem parte do grupo de risco. Além disso, não podemos desconsiderar que uma parcela tem seguido o isolamento social à risca, saindo apenas para o essencial (ou não saindo), e não estaria disposta a se expor ao vírus por um problema em que podemos buscar soluções alternativas.
Então, estaríamos dividindo os estudantes entre os que teriam e os que não teriam condições ou disposição de fazer as provas presenciais, o que não é vantajoso. A introdução do ensino remoto por si só já impõe dificuldades de acesso à internet, equipamentos e ambiente de estudos adequado que acabam por desnivelar os estudantes. Não precisamos adicionar outro degrau a este desnivelamento.
Por isso, acreditamos que refletir quanto aos métodos avaliativos escolhidos venha a ser frutífero no atual momento. Por exemplo, a apresentação de seminários (individual ou em grupo) como avaliação ainda exige que o estudante apresente domínio do tema tratado e saiba expô-lo quando requisitado, bem como pode ser um motivador aos estudos. Outra possibilidade é a adoção de trabalhos ou projetos como o feito em disciplinas de introdução ao trabalho acadêmico.
Por fim, tal reflexão poderá ser mais vantajosa se realizada em conjunto com os estudantes. Em um diálogo entre as duas categorias temos como conciliar este problema de forma a favorecer ambos os lados. Nós, estudantes, estamos dispostos a ouvir vocês.
Dito isso, queremos lhes convidar para uma conversa franca no dia 18 de dezembro (sexta-feira), às 17:30, via Google Meet. O objetivo desta reunião será falarmos abertamente sobre o problema de cola no Instituto - que não é algo exclusivo do ensino remoto, mas tem se expressado com mais força agora - e buscarmos em conjunto elencar medidas cabíveis ao momento e que satisfaçam docentes e discentes. Esperamos que assim como estamos dispostos a ouvir vocês, vocês estejam dispostos a nos ouvir.
Atenciosamente,
Corpo estudantil do IME-USP